Turismo, cultura e identidades locais: abordagem teórico-reflexiva à luz da dialéctica dos conceitos

O turismo interfere positiva e negativamente na vida social, dinâmica cultural e identidade local das comunidades. Uma vez que esta actividade implica na movimentação de enorme quantidade de pessoas promovendo contacto entre diferentes culturas, o seu papel no reforço/ esgotamento dos padrões culturais, promoção ou alteração da autenticidade, identidade, do património, da história é imprescindível tornando a relação entre turismo e cultura indissociável, interdependente. Neste contexto, a influência externa do turismo tem proporcionado interferências na dinâmica sociocultural e nas referencias identitárias das comunidades residentes nos locais onde o turismo acontece, alterando os padrões de comportamento dos residentes. Esta relação tem se apresentado na comunidade científica como uma dualidade, na medida em que diversos autores defendem a ideia de que a actividade turística contribui para a perda da identidade local e outros revelam que o turismo contribui para o fortalecimento das referências identitárias. Considerando que a identidade é um conceito móvel, sempre em construção que é moldado no contacto com o outro, sendo um processo contínuo, sugere-se neste trabalho a necessidade de reflexão sobre a verdadeira dimensão do conceito de “perda da identidade cultural” e a adopção da identidade como um processo que se constrói e desconstrói num processo dialéctico em que não existem perdas e ganhos, mas a transformação de identificações no rotineiro contacto com o outro e com as demais diversas influências externas, assumindo-se que a cultura não é estática e a identidade dos povos muda ao longo do tempo.